"O amor, quando se revela, não se sabe revelar. Sabe bem olhar pra ela, mas não lhe sabe falar."
Fernando Pessoa

sábado, 17 de abril de 2010

Post da madrugada!!

Resolvi postar hj de madrugada. Estava lendo Veríssimo quando me deparei cm esses dois textos kkkkkkk bastante interessantes. Boa leitura!


Códigos

Dona Paulina ensinou à sua filha Rosário que cada ponto do rosto onde
se colocasse uma pinta tinha seu significado. Na face, sobre o lábio, num
canto da boca, no queixo, na testa... A pinta, bem interpretada, mostrava
quem era a moça, e o que ela queria, e o que esperava de um
pretendente. O homem que se aproximasse de uma moça com uma pinta
— numa recepção na corte ou numa casa de chá — já sabia muito sobre
ela, antes mesmo de abordá-la, só pela localização da pinta. A três metros
de distância, o homem já sabia o que o esperava. A pinta era um código,
um aviso — ou um desafio.
Anos depois, dona Rosário ensinou à sua neta Margarida que a
maneira de usar um leque dizia tudo sobre uma mulher. Como segurá-lo,
como abri-lo, sua posição em relação ao rosto ou ao colo, como abaná-lo,
com que velocidade, com que olhar... Só pelos movimentos do leque uma
mulher desfraldava sua biografia, sua personalidade e até seus segredos
num salão, e quem a tirasse para dançar já sabia quais eram as suas
perspectivas, e os seus riscos, e o seu futuro.
Muitos anos depois, a Bel explicou para a sua bisavó Margarida
que a fatia de pizza impressa na sua camiseta com "Me come" escrito em
cima não queria dizer nada, mas que algumas das suas amigas usavam a
camiseta sem a fatia de pizza.



Sexo e futebol

A dissertação nada-a-ver de hoje é: no que o sexo e o futebol se parecem?
No futebol, como no sexo, as pessoas suam ao mesmo tempo, avançam
e recuam, quase sempre vão pelo meio mas também caem para um lado ou para
o outro e às vezes há um deslocamento. Nos dois é importantíssimo ter jogo de
cintura.
No sexo, como no futebol, muitas vezes acontece um cotovelaço no olho
sem querer, ou um desentendimento que acaba em expulsão. Aí um vai para o
chuveiro mais cedo.
Dizem que a única diferença entre uma festa de amasso e a cobrança de
um escanteio é que na grande área não tem música, porque o agarramento é o
mesmo, e no escanteio também tem gente que fica quase sem roupa.
Também dizem que uma das diferenças entre o futebol e o sexo é a
diferença entre camiseta e camisinha. Mas a camisinha, como a camiseta,
também não distingue, ela tanto pode vestir um craque como um medíocre.
No sexo, como no futebol, você amacia no peito, bota no chão, cadência,
e tem que ter uma explicação pronta na saída para o caso de não dar certo.
No futebol, como no sexo, tem gente que se benze antes de entrar e sempre sai
ofegante.
No sexo, como no futebol, tem o feijão com arroz, mas também tem o
requintado, a firula e o lance de efeito. E, claro, o lençol.
No sexo também tem gente que vai direto no calcanhar.
E tanto no sexo quanto no futebol o som que mais se ouve é aquele
"uuu".
No fim, sexo e futebol só são diferentes, mesmo, em duas coisas. No
futebol, não pode usar as mãos. E o sexo, graças a Deus, não é organizado pela
CBF.

Luis Fernando Veríssimo

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